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sábado, maio 31, 2014

Fortes e Fortalezas de Costa - Atlântico - Portugal I


A DEFESA DA COSTA PORTUGUESA

(defesa das barras do Tejo e do Sado)


TORRE DE BELÉM

            

Torre de Belém é um dos monumentos mais expressivos da cidade de Lisboa. Localiza-se na margem direita do rio Tejo, onde existiu outrora a praia de Belém. Inicialmente cercada pelas águas em todo o seu perímetro, progressivamente foi envolvida pela praia, até se incorporar hoje à terra firme. O monumento destaca-se pelo nacionalismo implícito, visto que é todo rodeado por decorações do Brasão de Armas de Portugal, incluindo inscrições de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais características remetem principalmente à arquitectura típica de uma época em que o país era uma potência global (a do início da Idade Moderna).

      

Originalmente sob a invocação de 'São Vicente de Saragoça', padroeiro da cidade de Lisboa, designada no século XVI pelo nome de 'Baluarte de São Vicente' a par de Belém e por 'Baluarte do Restelo', esta fortificação integrava o plano defensivo da barra do rio Tejo projectado à época de João II de Portugal (1481-1495), integrado na margem direita do rio pelo 'Baluarte de Cascais' e, na esquerda, pelo 'Baluarte da Caparica'. O cronista Garcia de Resende foi o autor do seu risco inicial, tendo registado:

“E assim mandou fazer então a (…) torre e baluarte de Caparica, defronte de Belém, em que estava muita e grande artilharia; e tinha ordenado de fazer uma forte fortaleza onde ora está a formosa torre de Belém, que el-Rei Don Manuel, que santa glória haja, mandou fazer; para que a fortaleza de uma parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio. A qual fortaleza eu por seu mandado debuxei, e com ele ordenei a sua vontade; e tinha já dada a capitania dela [a] Álvaro da Cunha, seu estribeiromor, e pessoa de que muito confiava; e porque el-Rei João faleceu, não houve tempo para se fazer


A estrutura só viria a ser iniciada em 1514, sob o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), tendo como arquitecto Francisco de Arruda. Localizava-se sobre um afloramento rochoso nas águas do rio, fronteiro à antiga praia de Belém, e destinava-se a substituir a antiga nau artilhada, ancorada naquele trecho, de onde partiam as frotas para as Índias. As suas obras ficaram a cargo de Diogo Boitaca, que, à época, também dirigia as já adiantadas obras do vizinho 'Mosteiro dos Jerónimos'. Concluída em 1520, foi seu primeiro alcaide Gaspar de Paiva, nomeado para a função no ano seguinte. Com a evolução dos meios de ataque e defesa, a estrutura foi, gradualmente, perdendo a sua função defensiva original. Ao longo dos séculos foi utilizada como registo aduaneiro, posto de sinalização telegráfico e farol. Os seus paióis foram utilizados como masmorras para presos políticos durante o reinado de Filipe II de Espanha (1580-1598), e, mais tarde, por João IV de Portugal (1640-1656). O Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, Don Sebastião de Matos de Noronha (1586-1641), por coligação à Espanha e fazendo frente a Don João IV, foi preso e mandado recluso para a 'Torre de Belém'. Sofreu várias remodelações ao longo dos séculos, principalmente a do século XVIII que privilegiou as ameias, o varandim do baluarte, o nicho da Virgem, voltado para o rio, e o claustrim.

      

O monumento reflecte influências islâmicas e orientais, que caracterizam o estilo manuelino e marcam o fim da tradição medieval das torres de menagem, ensaiando um dos primeiros baluartes para artilharia no país. Parte da sua beleza reside na decoração exterior, adornada com cordas e nós, esculpidos em pedra, galerias abertas, torres de vigia no estilo mourisco e ameias em forma de escudos decoradas com esferas armilares, a cruz da Ordem de Cristo e elementos naturalistas, como um rinoceronte, alusivos às navegações. O interior gótico, por baixo do terraço, que serviu como armaria e prisão, é muito austero. A sua estrutura compõe-se de dois elementos principais: a torre e o baluarte. Nos ângulos do terraço da torre e do baluarte, sobressai em guaritas cilíndricas coroadas por cúpulas de gomos, ricamente decorada em cantaria de pedra. A torre quadrangular, de tradição medieval, eleva-se em cinco pavimentos acima do baluarte, a saber:

Primeiro pavimento - Sala do Governador

Segundo pavimento - Sala dos Reis, com tecto elíptico e fogão ornamentado com meias-esferas

Terceiro pavimento - Sala de Audiências

Quarto pavimento – Capela

Quinto pavimento - Terraço da torre

      

A nave do baluarte poligonal, ventilada por um claustrim, abre 16 canhoneiras para tiro rasante de artilharia. O terraplano, guarnecido por ameias, constitui uma segunda linha de fogo, nele se localizando o santuário de 'Nossa Senhora do Bom Sucesso com o Menino', também conhecida como a Virgem do Restelo por "Virgem das Uvas". Por decreto de 30 de Julho de 1644, Don João IV ordenou que o Conselho de Guerra desse o seu parecer sobre consulta que o Conselho da Fazenda fizera sobre os artilheiros, o material de guerra e as provisões existentes nas fortalezas da barra de Lisboa, e nas de Setúbal e de Peniche, bem como sobre o que era necessário prover. As listas exaustivas de tudo quanto se encontrava em cada fortaleza surgem em anexo à consulta do Conselho de Guerra de 12 de Agosto de 1644. Nessa consulta, o Conselho de Guerra apoiou o parecer do Conselho de Fazenda para que as fortalezas de Setúbal e Peniche, como distavam mais de Lisboa, tivessem tudo quanto fosse necessário dentro das suas muralhas, e para esse efeito o tenente-general da artilharia devia visitar aquelas fortalezas passado o mês de Setembro, numa época do ano em que os seus afazeres eram menores na capital do Reino. Quanto às fortalezas da barra de Lisboa, poderiam ser abastecidas do que estivesse em falta em qualquer altura, não requerendo muita urgência, à excepção da pólvora e das balas de diferentes calibres, que deveriam ser providenciadas de imediato. O Conselho de Guerra advertiu, por fim, que a consignação de 1.000 cruzados (400.000 réis) que se tinha atribuído ao tenente-general da artilharia era insuficiente para as necessidades das fortalezas, pelo que seria conveniente atribuírem-se outros mil cruzados, provenientes das tenças.

       

FORTALEZA DE SÃO GIÃO
(São Julião da Barra)


      


O Forte de São Julião da Barra localiza-se na ponta de São Gião, à margem direita do rio Tejo, na vila de Oeiras, freguesia de Oeiras e São Julião da Barra Concelho de Oeiras Distrito de Lisboa em Portugal. Considerada no passado como o 'Escudo do Reino', maior fortificação marítima no país, constitui o maior e mais completo complexo militar de defesa no estilo 'Vauban' remanescente em Portugal. Tinha originalmente, em conjunto com o 'Forte de São Lourenço do Bugio', com quem cooperava, a função de controle da entrada e saída das embarcações na barra do rio Tejo e o acesso ao porto de Lisboa. Actualmente é a residência oficial do Ministro da Defesa Nacional de Portugal. A construção de uma fortificação na ponta onde existiria uma ermida sob a invocação de São Gião, na margem direita da barra do rio Tejo, foi recomendada por Don Manuel I (1495-1521) a seu filho e sucessor, Don João III (1521-1557). Em 1549 este soberano criou o cargo de que confiou ao renomeado arquitecto Miguel de Arruda, o de "Mestre das Obras de Fortificação do Reino, lugares dalém e Índias", responsável por diversos complexos fortificados no ultramar português. Atendendo ao entendimento do seu Concelho, que sustentava que a defesa marítima do porto de Lisboa não deveria se fundamentar unicamente no 'Castelo de São Jorge' e na antiga cerca moura, e sim em modernas fortalezas abaluartadas junto à foz do rio, o soberano fez iniciar as obras do 'Forte da  Ponta de São Gião' em 1553, na margem direita da barra do Tejo. A defesa do porto e cidade de Lisboa passaria a ser constituída por um complexo defensivo integrado pela Torre, depois 'Forte de São Lourenço do Bugio', num banco de areia a meio da foz, com quem cruzava fogos, fechando a barra do Tejo, complementado pela Praça-forte de Cascais, como guarda avançada na margem direita da foz, e pelas 'Torre de Belém' (margem direita) e 'Torre Velha da Caparica' (margem esquerda) como defesa última do porto de Lisboa

      

Os planos da primitiva fortificação, abaluartada nos moldes da escola italiana, são atribuídos ao arquitecto Miguel de Arruda, no exercício do cargo criado em 1549. Sabe-se que em 1559 foi lançado um tributo especial o que permitiu que as obras da sua edificação se desenvolvessem mais rapidamente, e que, em 1562 Miguel de Arruda foi nomeado Mestre-Vedor das obras. Desse modo, já em 1568, a estrutura era dada como concluída, ao término da primeira regência do Cardeal Don Henrique (1562-1568). Obras complementares, entretanto prosseguiam ainda em 1573, quando nas masmorras do forte eram detidos aqueles que aguardavam degredo, ocupados em trabalhos forçados nas obras da própria estrutura. Data dessa época (1579) uma descrição e um desenho da fortificação, de autoria de João Baptista Géssio, espião a serviço do rei Filipe II de Espanha, que já então se preparava para assumir o trono de Portugal. A sua defesa, entretanto, não foi capaz de impedir o avanço das tropas espanholas sob o comando do duque de Alba que a cercaram pelo lado de terra, tendo se rendido ao fim de seis dias (13 de Agosto de 1580), conforme negociações entre Tristão Vaz da Veiga e o comando das tropas invasoras. época da Dinastia Filipina, a partir de 1580, o duque de Alba determinou ao arquitecto Giacomo Palearo que projectasse meios para reforçar a defesa do forte. Este procedeu a correcções no traçado do fosso, fez erguer novas baterias, ampliou as defesas do flanco oeste. A partir de 1582 procedeu-se a edificação da esplanada inferior do lado leste, adicionando-se os baluartes sob a invocação de São Filipe e de São Pedro. A partir de 1597 o engenheiro militar e arquitecto cremonense Leonardo Torriani, assumiu a direcção das suas obras de ampliação e reforço. No conjunto, essas obras transformaram o 'Forte de São Julião' na maior e mais poderosa fortificação do reino de Portugal, à época. No mesmo período, as instalações da fortificação passaram a ser utilizadas como prisão política do Estado português, função que se manteve nos séculos seguintes até à 1ª República portuguesa.

      

No momento da Restauração da independência, sofreu o seu segundo cerco por terra, agora pelas tropas leais ao Duque de Bragança. Na ocasião destacou-se a iniciativa de Don Fernando de Mascarenhas, 1º conde da Torre que, aí detido politicamente, levou o governador espanhol da praça, Don Fernando de La Cueva, a negociar os termos da rendição, em troca de substancial recompensa (12 de Dezembro de 1640). Sob o reinado de Don João IV (1640-1656), o governador da praça, Martim Correia da Silva reportou ao soberano a urgência de obras de reparo (1645). Assim, dentro de um plano de reforço da fortificação do litoral lisboeta, a partir de 1650, novas obras de ampliação e reforço tiveram lugar em São Julião da Barra, destacando-se a construção, pelo lado de terra, de um novo revelim, à qual se seguiria a construção de quartéis e alojamentos para a guarnição (1655). À época do consulado pombalino, sofreu novas obras de recuperação e de ampliação, agora na muralha pelo lado do mar, na Casa do Governador, nos quartéis e nas cisternas (1751). Sofreu danos Causados pelo terramoto de 1755, o mais grave talvez a queda do farol, da respectiva torre que se elevava no centro da praça, conforme fontes coevas. As obras de recuperação do farol implicaram na elevação da sua torre em trinta palmos de altura (cerca de seis metros), tendo voltado a funcionar em 1761. Enquanto isso, o primeiro-ministro aí faria encarcerar mais de uma centena de jesuítas a partir de 1759. Quando do início da Guerra Peninsular, as tropas francesas de Napoleão Bonaparte, sob o comando do General Jean-Andoche Junot alcançaram os limites de Lisboa a 30 de Novembro de 1807. A vila de Oeiras e o 'Forte de São Julião' foram transformados em Quartel-General das tropas de ocupação francesas sob o comando do General Jean-Pierre Travot, enquanto a barra do rio Tejo era bloqueada pela marinha inglesa. O forte só passou para as mãos britânicas após a Convenção de Sintra, em 2 de Setembro de 1808. A partir de 1809, o 'Forte de São Julião', o mais importante da linha de Oeiras (que constituía a terceira das quatro linhas defensivas de Lisboa, as famosas Linhas de Torres), voltou a ter um Governador militar português. Sob orientação britânica foram erguidos neste litoral uma série de pequenos redutos de marinha que complementavam a defesa de terra de São Julião, com a finalidade de proteger o reembarque das tropas britânicas em caso de necessidade. Neste período, continuamente utilizada como prisão política, um de seus mais famosos detentos foi o General Gomes Freire de Andrade, acusado de suposto envolvimento numa conspiração contra a presença inglesa. Executado, o seu corpo foi queimado e as suas cinzas deitadas ao rio Tejo em 18 de Outubro de 1817.

      

A estrutura foi erguida em cantaria e alvenaria rebocada, apresentando planta irregular com formato aproximadamente pentagonal, sendo integrada por muralhas, revelim, baluartes, esplanadas com baterias de artilharia, guaritas cobertas, caminhos de ronda, rampas e outras. Em seu interior, além das dependências de serviço (Casa do Governador, quartéis de tropas, paióis, depósitos e outros), incluía-se uma Capela, casamatas abobadadas e cisterna em segmento de círculo, também abobadada, actualmente aproveitada como salão de recepções. A torre do farol com guaritas nos cunhais, eleva-se em três pavimentos, ladeada pelos alojamentos da guarnição. É defendida pelo lado de terra por dois fossos e, primitivamente, por uma ponte levadiça, actualmente em aço e alvenaria. A leste ergue-se o baluarte do Príncipe ou de El-Rei Don Fernando. A oeste, voltado para o mar, outros baluartes entre os quais se destaca o de Santo António.

TORRE DA CABEÇA SECA
(Forte de São Lourenço da Cabeça Seca, ou Bugio)

      

Conhecida durante a Guerra da Restauração como 'Torre da Cabeça Seca', esta fortificação é actualmente designada por 'Forte de São Lourenço da Cabeça Seca', ou simplesmente 'Forte do Bugio'. Localiza-se a meio das águas da foz do rio Tejo, na direcção da Cova do vapor, Trafaria (que fica a Sul no Distrito de Setúbal) e da vila e concelho de Oeiras (que fica a Norte no Distrito de Lisboa), em Portugal. Inclui na sua estrutura o Farol do Bugio. O local onde se ergue é um banco de areia formado pelo assoreamento da foz do rio, fruto da dinâmica da confluência de suas águas com as do oceano Atlântico, ao ritmo das marés. Sendo o único da região com a sua estrutura circular e da primitiva torre encimada por farol, com uma vela acesa sobre o seu castiçal. A ideia de uma fortificação para a barra do rio Tejo, com a função de protecção do acesso marítimo à cidade de Lisboa, foi primeiramente apresentada no reinado de Don Sebastião (1568-1578) pelo arquitecto Francisco de Holanda, na obra Da fábrica que falece a cidade de Lisboa (Lisboa, 1571), indicando para essa finalidade o areal da Cabeça Seca. O soberano acatou essa sugestão, encarregando, em 1578, Don Manuel de Almada de erguer essa estrutura, com a função estratégica de cruzar fogos com a primitiva 'Torre de São Gião'. Diante da crise sucessória que se instalou com a morte do soberano na 'batalha de Alcácer Quibir' e diante da possibilidade de uma invasão de Portugal pelas tropas de Don Filipe II de Espanha, optou-se por uma estrutura de campanha de pequenas dimensões, erguida sobre grossa estacaria de madeira, que entulhada com pedras, serviu de alicerce para uma plataforma com algumas peças de artilharia. Rendida pela armada espanhola em 1580, foi posteriormente desarmada. A fragilidade do material, entretanto, aliada à instabilidade do banco de areia e à acção das correntes e das marés, em pouco tempo comprometeu irremediavelmente esta estrutura. O início das obras: Giovanni Casale, à época da Dinastia Filipina, o rei Don Filipe I (1580-1598) determinou ao engenheiro militar e arquitecto italiano frei Giovanni Vicenzo Casale um estudo para melhorar o sistema defensivo da barra de Lisboa (1586) então sob ameaça de corsários ingleses e holandeses. Alguns historiadores atribuem ao Engenheiro-mor de Espanha, o sienense Tibúrcio Spanochi, neste período, o projecto para uma fortificação definitiva na 'Cabeça Seca'. Em Janeiro de 1590 Casale apresentou ao soberano os projectos da fortificação, com duas planimetrias distintas: uma estrelada (atendendo a uma sugestão de André de Prade, na Corte de Madrid) e outra circular. A opção foi por esta última, mais sólida diante da dinâmica das águas e que permitia um melhor posicionamento da artilharia. Nesse mesmo ano expediu-se ordem para se proceder ao desenho das barcas e machinas necessárias para o transporte e lançamento das pedras que serviriam de fundamentos debaixo de água, tarefa concluída em 1593, como reportado por Casale ao soberano. Mediante o falecimento de Casale em Lisboa, em fins de 1594, foram nomeados para dirigir as obras dois discípulos seus, Tibúrcio Spannochi e Anton Coll, sob a justificativa de que ambos eram conhecedores do modo de fabricar y manejar los instrumentos e para que a traça começada não fosse alterada. Para a preparação dos blocos de pedra utilizada na fundação e nas muralhas, foi erguido um canteiro de obras em terra, próximo a 'São Julião da Barra' (também em obras à época), que ficou conhecido como Feitoria das Obras da Cabeça Seca ou simplesmente Feitoria d'El-Rei, conforme referência de João Vaz, Juiz Ordinário e dos Órfãos do reguengo de A-Par-de-Oeiras (1596). A mesma fonte dá conta de que a cantaria pronta era transportada para as obras do forte por trinta mestres de barcas, envolvimento das obras: Leonardo Torriani. A partir de 1598 a direcção da obra foi assumida pelo engenheiro militar e arquitecto cremonense Leonardo Torriani, nomeado Engenheiro-Mór do Reino, e como encarregado dela, Gaspar Rodrigues. A partir de então o projecto entrou numa nova fase, dadas as alterações que Torriani lhe introduziu, ampliando-a. Entre os problemas reverenciados à época, cita-se uma dúvida sobre o fundo da barra: provavelmente devido a problemas com o transporte das pedras, nos anos de 1607 e de 1608 sucederam-se várias sondagens daquele fundo, por profissionais e práticos, que atestaram que ela permanecia boa e capaz para a entrada das naus da Índia.

      

Quando da Restauração da Independência, ainda em obras mas já guarnecida e artilhada, o seu Governador espanhol, João Carrilho Rótulo, rendeu-se às forças do Duque de Bragança (2 de Dezembro de 1640). Assumindo o trono como Don João IV (1640-1656), por Decreto Real este soberano determinou que as obras fossem concluídas e que um engenheiro Português assumisse os trabalhos (1643), conforme placa epigráfica de bronze primitivamente sobre o portão do forte (hoje no pólo museológico da Direcção de Faróis, em Paço de Arcos) que reza;

"O MUITO ALTO E MUITO PODEROSO REI DE PORTUGAL D. IOAO IV DE GLORIOZA MEMORIA MANDOU FAZER ESTA FORTALEZA A ORDEM DO CONDE DE CANTANHEDE DON ANTONIO LUIS DE MENEZES DOS SEUS CONSELHOS DE ESTADO E GUERRA VEDOR DA FAZENDA E GOVERNADOR DAS ARMAS DE CASCAIS QUE COMESSOU NO ANNO DE 1643."

Iniciou-se assim uma nova etapa construtiva, sob a superintendência do conde de Cantanhede (1596-1675), tendo como encarregado o frei João Torriani, coadjuvado por Mateus do Couto, até serem dadas como concluídas em 1657. No final do século XVII, um Decreto estipulou que esta fortificação passaria a ter comando separado do Forte de São Julião da Barra, ao qual se subordinava (1675).

      

Em planta datada de 1693 já se encontra figurada uma torre encimada por um farol, estrutura que, à semelhança de uma vela acesa (em francês bougie), teria rendido o nome de bugio à estrutura. O relatório de inspecção efectuada em 1751 ao farol, mostra que o mesmo operava com azeite, no período de Outubro a Março, e que se encontrava em razoáveis condições. Esta estrutura, destruída pelo terramoto de 1755, foi reedificada como um dos seis faróis erguidos na costa portuguesa para auxílio à navegação, conforme determinação de um Alvará do Marquês de Pombal datado de 1758. O novo farol entrou em funcionamento em 1775. Do século XIX ao XX Quando da eclosão da Guerra Peninsular, foi ocupada pelas tropas napoleónicas (1807) e, posteriormente, durante as Guerras Liberais, foi alvo do fogo da artilharia da esquadra francesa que, sob o comando do Almirante Roussin, forçou a barra do Tejo (1831). Datam desta fase alguns projectos de alterações que não chegaram a ser implementados. Ao final do século XIX foi classificada como Praça de Guerra de 2ª Classe, ocasião em que se encontrava artilhada com 18 peças de bronze e 2 obuses (1880). Actualmente é utilizada como farol de apoio à navegação. A estrutura, considerada modelo de fortificação renascentista, apresenta planta no formato circular perfeito, em alvenaria de pedra, formato escolhido por Casale que considerou que este permitia uma melhor direcção do fogo da artilharia, ao mesmo tempo em que lhe conferia uma maior solidez para resistir à erosão provocada pelas correntes do rio e força das marés. É composta por: muralha externa com alambor (base circular, com 62 metros de diâmetro por 6 metros de altura), rasgada por porta em arco de asa de cesto; muralha interna (formato circular, com 33 metros de diâmetro por 7 metros de altura), na qual se inscrevem internamente as dependências de serviço (21 compartimentos). O seu terrapleno é lajeado, com baterias; torre central (formato circular, com 3 metros de diâmetro por 16 metros de altura), com porta em arco de asa de cesto. No topo da torre se encontra instalado o moderno farol. As dependências de serviço são constituídas pela Casa de Comando, quartéis, paiol, depósitos, cisterna e Capela. Nesta última, destaca-se um retábulo-mor em estilo maneirista com embrechados de mármore, tendo as paredes e o tecto forrados em madeira pintada.

      

O Forte do Bugio, inspirado no 'Castel Sant'Angelo' em Roma, na Itália, por sua vez serviu de modelo para o 'Forte de São Marcelo' em sítio semelhante, na cidade do 'Salvador na Bahia' de Todos os Santos, Brasil, cuja traça se deve ao Engenheiro-mor Francisco de Frias da Mesquita (desde 1603), em 1622.

FORTES DE PAÇO DE ARCOS E DE S. JOÃO DAS MAIAS

Dando continuidade à descrição da situação da defesa costeira portuguesa entre as barras de Setúbal e de Peniche, e tendo iniciado esta descrição pela barra do Tejo, seguindo o documento apresentado ao Conselho de Guerra em Agosto de 1644, cabe hoje a vez aos Fortes de Paço de Arcos (ou São Pedro de Paço de Arcos) e de 'São João das Maias'. O primeiro destes fortes já não existe. Tendo sido erguido em 1641, tal como o segundo acima referido, foi definitivamente destruído em 1975, para dar lugar aos novos edifícios da Escola Militar de Electromecânica. O 'Forte de São João das Maias' ainda subsiste e localiza-se no moderno passeio marítimo de Oeiras, mas encontra-se no lamentável estado de degradação que a foto documenta.

      

FORTE DE PAÇO DE ARCOS

O Forte de São Pedro de Paço de Arcos localizava-se na altura da Vila de Oeiras, no Distrito de Lisboa, em Portugal. Embora geralmente se considere ter tido erguido no início do século XIX, no contexto da Guerra Peninsular por orientação das forças de ocupação britânicas, António Nunes refere que a sua traça é possivelmente de autoria de Cosmandere que estaria concluído em 1647, no contexto, portanto, da Guerra da Restauração Além dessa fonte, existe uma gravura datada de 1763, de autor desconhecido, actualmente nos arquivos da Câmara Municipal de Lisboa, que representa os estragos provocados na cidade de Lisboa pelo sismo de 1755. Nela é visível toda a margem norte do rio Tejo, do Beato a 'São Julião da Barra', estando representado e designado o 'Forte de Paço de Arcos'. Esta estrutura não sobreviveu até aos nossos dias, restando apenas alguns vestígios, pouco visíveis. Constituiu-se em um forte de marinha, de pequenas dimensões, destinado a reforçar a linha de Oeiras, coadjuvando a defesa proporcionada pelo 'Forte de São Julião da Barra'.

      

FORTE DE SÃO JOÃO DAS MAIAS

O 'Forte de São João das Maias', também referido como 'Forte de Oeiras' ou 'Forte das Maias', localiza-se na margem direita da foz do rio Tejo, no extremo Leste da enseada da praia de Santo Amaro, na vila de Oeiras, freguesia de Oeiras e São Julião da Barra, Concelho de Oeiras, Distrito de Lisboa, em Portugal. No extremo Oeste da Praia de S.to Amaro situa-se o 'Forte do Areeiro'. Foi edificado no Contexto da guerra da restauração da independência portuguesa, integrante da 1ª linha de fortificações (marítimas e fluviais) da barra do Tejo erguidas à época, que se estendia do cabo da Roca até à Orre de Belém, para defesa da cidade de Lisboa. Foi erguido por determinação do Conselho de Guerra de Don João IV (1640-1656), sob a supervisão de Don António Luís de Meneses (1596-1675), conde de Cantanhede, na qualidade de Governador das Armas da Praça de Cascais. Coadjuvava a defesa proporcionada pelo 'Forte de São Julião da Barra', a quem se subordinava. Com traça possivelmente de Comandar, as obras ficaram a cargo do Capitão Álvaro de Souza, tendo se desenvolvido de 1644 a 1653, quando ficou guarnecido por vinte soldados, dez artilheiros e um condestável, e artilhado com cinco peças. No alvorecer do século XVIII foi governado por Don Cristóvão Manuel, 2º conde de Vila Flor, nomeado em 1701 e falecido em 1704. Em 1728 o forte era governado pelo Capitão Manuel de Brito Freire, até ao seu falecimento e, em 1730, pelo sargento-mor José da Cruz da Silva, por falecimento do antecessor. Um pouco mais tarde, em 1735, encontrava-se em bom estado de conservação, porém sua artilharia reduzia-se a duas peças de bronze do calibre 24 montadas, e mais doze, de diversos calibres, fora de serviço. Em meados do século, necessitando de reparos, as suas obras eram orçadas em 1.200$000 réis (1751). É deste período a primeira aplicação de azulejos nas dependências da Capela, por iniciativa do seu governador, Roque Martins Ribeiro (1754), que entretanto, seria severamente danificado quando do terramoto de 1755. Reparada, a Capela foi reaberta ao culto, pelo mesmo governador, em 1759. Uma década mais tarde, efectuam-se obras de ampliação da estrutura, principiando-se a chamada Bateria Nova, externamente ao recinto fortificado. Essa bateria ainda se encontrava sem a respectiva artilharia a 18 de Agosto de 1769. Obras de reparos prosseguiam em 1793, quando a bateria foi reconstruída. Ao se iniciar o século XIX, após a Guerra das Laranjas, o forte encontrava-se artilhado com vinte e quatro peças de diversos calibres, distribuídas doze na Bateria Nova, oito, na Bateria Velha e mais quatro na Bateria Elevada (no terraço da Casa-forte). Em 1809 integrava a defesa constituída pelas Linhas de Torres. Mais tarde, à época das Guerras Liberais encontrava-se sob o governo do Tenente-coronel João da Guarda Cabreira (nomeado em 9 de Novembro de 1831), estando artilhada por quatorzeno peças de diversos calibres (1833). Anos mais tarde, a sua artilharia elevava-se a dezassete peças em serviço (1837). Em meados do século XIX, passou por obras de reedificação (1853), sendo governador do forte o Major Inácio José Perdigão, governador do Forte de São Julião da Barra o General barão da Batalha, de acordo com placa epigráfica. Em meados do século XX, alguns terrenos pertencente ao entorno do forte foram cedidos à Junta Autónoma das Estradas (13 de Janeiro de 1940), com vistas à abertura da Av. Marginal. As dependências do forte abrigavam a Colónia Balnear Infantil da Brigada Naval da Região de Lisboa (1963). Após a Revolução dos Cravos, a edificação foi cedida formalmente aos Serviços Sociais das Forças Armadas para servir como colónia de férias (1976).

      

Pequena fortificação marítima de traçado abaluartado, em estilo maneirista. Erguida em alvenaria, apresenta planta no formato pentagonal irregular, com merlões e guaritas com corpo cilíndrico recobertas por cúpulas. Sobre o portão principal em arco perfeito, em cantaria, uma lápide epigráfica encimada pelas armas reais informa Álvaro de Sousa o fez em 1644. Por ele se acede a Casa-forte com planta no formato de um trapézio, coberta por um eirado, onde se distribuem as dependências de serviço. No vestíbulo destaca-se o lambri de azulejos monocromático e, no final do corredor, na Capela, coberta por abóboda de berço, o silhar de azulejos monocromático de meados do século XVIII, representando 'Santa Rosália e São Roque'.

       

FORTALEZA DE CASCAIS

      

A Fortaleza mantém memórias de diferentes épocas importantes da história de Portugal. A Fortaleza foi construída para proteger Cascais de invasões de corsários e piratas assim no século 15 foi construída a 'Torre de Santo António' também conhecida como a 'Torre de Cascais' para defender a aldeia. Durante o a época do Conde Don Henrique a torre estava sempre pronta para qualquer ataque que viesse do mar, com soldados, artilharia e como entrada do Rio Tejo também servia de vigia. Mais tarde durante o reinado de Filipe I foi reconstruida toda a área, o que tornou possível a construção da 'Fortaleza de nossa Senhora da Luz', ou também conhecida simplesmente da 'Fortaleza da Luz'. A torre está rodeada por três redutos. A sua é ocre porque era mais fácil confundi-lo com a linha de costa. Após o grande terremoto de 1755 a torre foi reconstruida e algumas alterações foram feitas, com uma nova torre mais curta e um muro  em torno de toda a fortaleza. Algumas mudanças também foram feitas nas janelas e cofres. O lugar tem um parque central e quatro edifícios: 'Santa Catarina' ou 'Palácio', 'São Pedro', 'Santo António' e 'São Luis' onde funciona o Hospital dos soldados. Há também uma cisterna.

      

FORTALEZA DE SÃO FILIPE DE SETÚBAL


A Fortaleza de São Filipe de Setúbal - também conhecida por 'Forte de São Filipe' e por 'Castelo de São Filipe' (esta última designação era frequente no período da Guerra da Restauração) - foi mandada edificar por Filipe II de Espanha e I de Portugal, e destinava-se a controlar a entrada da barra do rio Sado e o acesso à então vila de Setúbal. As obras iniciaram-se em 1582, tendo ficado concluídas em 1600. Entre 1649 e 1655 (portanto, já em plena Guerra da Restauração, mas em período posterior à descrição que aqui se transcreve), a fortaleza recebeu melhoramentos, de modo a que a artilharia pudesse cobrir com maior eficácia o porto de Setúbal O 'Forte de São Filipe de Setubal', Localiza-se em posição dominante sobre um outeiro, fronteiro à cibade no  litoral de Setubal, dominando a margem esquerda da foz do Rio Sado e o Oceano Atlântico, em Portugal. O projecto de uma fortificação moderna para defesa deste trecho do litoral português remonta ao século XIV, com a construção do 'Forte de Santiago Outão', destinado ao controle da entrada barra do rio e acesso ao burgo medieval. Visando ampliar essa defesa, no reinado de Don João III (1521-1557), Brás Dias recebeu Regimento no cargo de administrador das obras da Praça e Castelo de Setúbal (31 de Julho de1526). As dificuldades financeiras, que levaram inclusive ao abandono das posições ultramarinas no Norte de África ('Praça-forte de Azamor', 'Praça-forte de Arzila', 'Praça-forte de Alcácer-Ceguer' e 'Praça-forte de Safim'), terão atrasado o desenvolvimento desses trabalhos. Retomado à época da dinastia Filipina, a sua relevância é demonstrada pelo fato de que o próprio soberano D. Filipe I (1580-1598) assistiu em pessoa, em 1582, ao lançamento da pedra fundamental da nova fortificação, com traça do arquitecto e engenheiro militar italiano Filippo Terzi (1520-1597). Este engenheiro teria trabalhado nessas obras até meados de 1594, quando assinou uma planta e corte da fortificação (8 de Julho de 1594), remetida ao Conselho de Guerra espanhol. Com o seu falecimento, foi designado para as obras o engenheiro militar e arquitecto cremonense Leonardo Torriani, que as teria dado como concluídas em 1600. No contexto da Restauração da independência, sob o reinado de Don João IV (1640-1656), o Governador das Armas de Setúbal, João de Saldanha, executou a ampliação desta defesa pela adição de uma bateria baixa, entre 1649 e 1655. Acredita-se que esta nova estrutura visava cobrir a deficiência da artilharia em cobrir o acesso fluvial ao porto. No século XVIII a Capela em seu interior adquiriu o seu revestimento de azulejos, assinados por Policarpo de Oliveira Bernardes (1736). Durante o consulado Pombalino (1750-1777) não teria ficado imune ao terramoto de 1755 e foi utilizada como Escola de Artilheiros. Em meados do século XIX um incêndio destruiu a Casa do Comando, então residência do Governador das Armas de Setúbal. A então moderna estrutura projectada por Terzi, em estilo maneirista, incorporava os avanços impostos pela artilharia da época. Em alvenaria de pedra e tijolo, revestida por cantaria de pedra, apresenta planta poligonal irregular estrelada (orgânica) com seis baluartes guaritas prismáticas cobertas por cúpulas nos ângulos salientes, cercada por um fosso. Pelo lado de terra, a defesa é complementada por uma segunda muralha (contra-escarpa), exterior ao fosso. Em seu interior, cessado por um Portão de Armas a Oeste nas muralhas, defendido por dois baluartes, um átrio dá acesso a um túnel de alvenaria de pedra, cum uma larga e suave escadaria com degraus em dois lances. Esta, por sua vez, é coberta por uma abóbada e o patamar entre os seus lances dá acesso às casamatas. Ao seu final, no terrapleno, encontram-se os edifícios de serviço: a Casa de Comando (antiga residência do Governador das Armas) e a Capela, à esquerda. A pequena 'Capela de São Filipe', orago do forte, apresenta planta rectangular, coberta por abóbada de berço. O seu portal exibe frontão ornado com volutas e uma torre sineira, entre pilastras. O seu interior é completamente revestido por azulejos nas cores azul e branca, onde se destacam painéis com cenas da vida daquele santo católico, assinados por Policarpo de Oliveira Bernardes (1736). A bateria baixa, estrutura datada do século XVII, constitui-se num baluarte com o formato trapezoidal que se estende em direcção ao mar.

FORTALEZA DE SÃO SEBASTIÃO DA CAPARICA

O Forte de São Sebastião da Caparica também denominado como 'Torre de São Sebastião da Caparica', 'Torre Velha e Fortaleza da Torre Velha', localiza-se na vila do Monte da Caparica, freguesia da Caparica, concelho de Almada, distrito de Setúbal, em Portugal. A 'Torre Velha da Caparica' é um dos mais importantes exemplares da arquitectura militar renascentista no país, uma vez que foi dos primeiros sistemas de artilharia integrando a defesa da barra do rio Tejo, juntamente com a 'Torre de Santo António de Cascais' e a 'Torre de São Vicente de Belém'.

            
O BALUARTE DA CAPARICA

A estrutura original do Baluarte da Caparica, segundo gravuras coevas do cronista Garcia de Resende, era composta por uma torre e um baluarte, à semelhança do que foi construído, alguns anos mais tarde, no 'Baluarte de Cascais' (1498), na Roqueta de Viana do Castelo (1502) e na 'Torre de Belém' (1515). Sobre essas estruturas e sua relação com o Rei Don João II (1481-1495) Garcia de Resende registou ainda:

"E assim mandou fazer então a (...) torre e baluarte de Caparica, defronte de Belém, em que estava muita e grande artilharia; e tinha ordenado de fazer uma forte fortaleza onde ora está a formosa torre de Belém, que el-Rei D. Manuel, que santa glória haja, mandou fazer; para que a fortaleza de uma parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio. A qual fortaleza eu por seu mandado debuxei, e com ele ordenei a sua vontade; e tinha já dada a capitania dela [a] Álvaro da Cunha, seu estribeiro-mor, e pessoa de que muito confiava; e porque el-Rei João faleceu, não houve tempo para se fazer."

Em 1570, à semelhança do que aconteceu com diversos fortes ao longo da costa portuguesa, Don Sebastião (1568-1578) mandou reformar a antiga torre, transformando-a numa fortificação de maiores dimensões. Nessa época passou a ser designada por 'Fortaleza de São Sebastião da Caparica'. Os trabalhos prosseguiram durante a Dinastia Filipina, tendo o seu projecto sofrido alterações estruturais. Nesta fase a fortificação era conhecida como 'Torre dos Castelhanos'. Da Guerra Peninsular até aos nossos dias, no contexto da Guerra Peninsular, em 1801 as fortificações da margem sul do Tejo foram desactivadas. Entretanto, o levantamento de Outubro de 1808, aponta-lhe:

5 peças de bronze, da praça, calibre 36.
4 peças de calibre 18.
9 peças de calibre 12.
5 peças de ferro, calibre 24.
9 peças de ferro, calibre 18.
6 peças de ferro, calibre 6.
6 reparos para peças de artilharia de praça, de calibre 36.
9 reparos para peças de artilharia de campanha, de calibre 12.
2 carretas de marinha para peças de calibre 36.
5 carretas de marinha para peças de calibre 24.
13 carretas de marinha para peças de calibre 18.
6 carretas de marinha para peças de calibre 6.
2.400 balas e lanternetas dos calibres 36, 18, 12 e 8.

A estrutura que chegou aos nossos dias conserva as partes fundamentais existentes em meados do século XVII, como pode ser constado pela comparação com uma planta datada de 1692 no acervo da 'Torre do Tombo' (Colecção Casa de Cadaval). A planta da fortificação desenvolve-se em "U", composta por três corpos e três baluartes com casernas. Uma das extremidades é prolongada por um baluarte e pela torre de vigia. Junto à Porta de Armas foi edificada a Capela, sob a invocação de São Sebastião. O corpo central da 'Torre Velha' apresenta planta quadrangular, rebaixada, à qual foi adossada a Casa do Governador. Sobre a antiga porta da praça, junto à torre, inscreve-se uma pedra de armas com armas de Portugal.

FORTALEZA DE PENICHE



A Praça-forte de Peniche localiza-se na cidade de mesmo nome, na sub-região do Oeste, em Portugal. É uma fortificação implantada na encosta sul, por sobre as arribas, entre o porto de pesca, a leste, e a Gruta da Furninha a oeste. Admite-se que a origem do topónimo Peniche deriva de Phoenix, nome de uma antiga povoação na ilha de Creta, cuja configuração geográfica era semelhante à da primitiva ilha de Peniche, que se converteu em península



No seu extremo situa-se o Cabo Carvoeiro. O povoado encontra-se a cerca de treze metros acima do nível do mar, ocupando hoje em dia uma área peninsular de 2.750 metros de comprimento no sentido oeste-leste. Esta fortificação era coadjuvada pelo 'Forte da Praia da Consolação' e pelo 'Forte de São João Baptista das Berlengas'.



Formando um extenso sistema defensivo que entretanto se revelou ineficaz durante a Guerra Peninsular perante a invasão napoleónica de 1807 sob o comando de Jean-Andoche Junot, tendo permanecido ocupada por tropas francesas entre o final desse ano e agosto de 1808. Os invasores melhoraram no entanto as suas defesas e picaram as armas de Portugal no portão principal da fortificação. Ocupada por tropas inglesas sob o comando de William Carr Beresford, foram feitas novas melhorias nas defesas, o que se repetiu sob o reinado de Miguel de Portugal (1828-1834), culminando na ampliação do perímetro defensivo.